Eu não queria ser mãe. Para mim, a maternidade sempre
foi algo ideologicamente valorizado, um dado imposto para as mulheres, com dificuldades não muito faladas e somente um lado glorificado. Então, achava que era preciso apenas me prevenir e evitar esse encontro.
No entanto, descobri-me grávida. Enxerguei-me na seguinte situação: “não é você
quem decide (...) A vida que está em você decide”.[1]
A gravidez foi um período de ansiedade e mistério.
Ansiedade por não ter idéia de como me sairia como mãe e mistério por gerar algo sem saber como se dá esse processo – algo cresce e adquire vida em você, modifica seu corpo e suas emoções. Passei a ser uma chorona de
primeira na gestação, sendo que antes continha as menores sensações...
Quando a minha bolsa estourou, estava sozinha em casa
e a minha primeira exclamação foi: “Como assim, a bolsa estourou? Eu ainda não
estou pronta!”. Como se esse mistério fosse parte do meu domínio pessoal...
Liguei para o meu marido, que chegou tão rápido quanto também assustado, pois
não esperávamos aquela data.
Após todo o processo de parto me vi diante de um ser
frágil e totalmente dependente. O mistério então se fez presente: como aquele
ser, todo perfeitinho, podia ter saído de mim?! É exatamente aquela explanação
de Mahfoud que “não há mãe que não fique maravilhada pelo fato de o filho
existir e ter uma perfeição muito maior que qualquer coisa que nós podemos
realizar; porque tudo que a gente faz é imperfeito. Tanto é que frequentemente
chega a dizer “Não é meu! É meu, mas não é meu...”[2]. Vi
então que fazia parte desse mistério, mas sobre o qual não exercia o menor controle, tampouco possuía muito conhecimento...
Hoje vejo como o fato de ser mãe é realmente incrível – difícil, sem dúvida, pois não se nasce mãe, torna-se mãe através do contato real com o filho que lhe foi “emprestado”, nas palavras de Saramago. Não tenho controle nenhum sobre a maternidade, como um dia achei que era possível e vejo que, como nos lembra Mahfoud, somente sou mãe através da afirmação do ser do meu filho, do reconhecimento dele como uma pessoa tão semelhante quanto distinta de mim.
Lindo texto Janine! Parabéns mamãe!
ResponderExcluirParabéns para nós, Fernanda!
ExcluirE obrigada por toda ajuda, tanto na época que me tornei mãe quanto agora!
Adorei!
ResponderExcluir