domingo, 13 de maio de 2012

Ser Mãe: Fazer parte do Mistério


Eu não queria ser mãe. Para mim, a maternidade sempre foi algo ideologicamente valorizado, um dado imposto para as mulheres, com dificuldades não muito faladas e somente um lado glorificado. Então, achava que era preciso apenas me prevenir e evitar esse encontro. No entanto, descobri-me grávida. Enxerguei-me na seguinte situação: “não é você quem decide (...) A vida que está em você decide”.[1]

A gravidez foi um período de ansiedade e mistério. Ansiedade por não ter idéia de como me sairia como mãe e mistério por gerar algo sem saber como se dá esse processo – algo cresce e adquire vida em você, modifica seu corpo e suas emoções. Passei a ser uma chorona de primeira na gestação, sendo que antes continha as menores sensações...

Quando a minha bolsa estourou, estava sozinha em casa e a minha primeira exclamação foi: “Como assim, a bolsa estourou? Eu ainda não estou pronta!”. Como se esse mistério fosse parte do meu domínio pessoal... Liguei para o meu marido, que chegou tão rápido quanto também assustado, pois não esperávamos aquela data.

Após todo o processo de parto me vi diante de um ser frágil e totalmente dependente. O mistério então se fez presente: como aquele ser, todo perfeitinho, podia ter saído de mim?! É exatamente aquela explanação de Mahfoud que “não há mãe que não fique maravilhada pelo fato de o filho existir e ter uma perfeição muito maior que qualquer coisa que nós podemos realizar; porque tudo que a gente faz é imperfeito. Tanto é que frequentemente chega a dizer “Não é meu! É meu, mas não é meu...”[2]. Vi então que fazia parte desse mistério, mas sobre o qual não exercia o menor controle, tampouco possuía muito conhecimento...

Hoje vejo como o fato de ser mãe é realmente incrível – difícil, sem dúvida, pois não se nasce mãe, torna-se mãe através do contato real com o filho que lhe foi “emprestado”, nas palavras de Saramago. Não tenho controle nenhum sobre a maternidade, como um dia achei que era possível e vejo que, como nos lembra Mahfoud, somente sou mãe através da afirmação do ser do meu filho, do reconhecimento dele como uma pessoa tão semelhante quanto distinta de mim.   

[1] MAHFOUD, Miguel. Experiência elementar e intervenção psicológica. 2005ª. Mimeo.
[2] Ibdem.

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