sexta-feira, 11 de maio de 2012

Fechamentos


Vocês já viveram certas ocasiões em que ficaram com uma angústia que não cessa?! Aqueles dias em que parece que tudo não anda bem?! Instantes longos em que reduzimos todos os acontecimentos?! Enfim, um certo mal estar que nos confunde e desorienta?! Pois bem, esses momentos podem remeter a um grande fechamento dos acontecimentos que nos cercam e contribuem para ficarmos mais defensivos, inseguros e com uma necessidade de proteção das mínimas intercorrências que possam aparecer.



Ao prestarmos atenção nessa angústia e tentarmos ver para onde nos leva, podemos perceber que às vezes ali reside na verdade um medo... Medo muito grande das coisas não acontecerem conforme esperamos, daquilo que podemos enfrentar, de não conseguirmos, do que possa vir... E, ao examinarmos tudo isso que o medo evidencia, podemos ver que passamos parte da nossa vida na vã tentativa de evitar a dor. Esta experiência que a todo momento procuramos negar, ocultar e até transformar em outra coisa para não ter que topar com ela é o que há de mais humano em nós. Mas, não a queremos e, com isso, ao evitá-la, caímos no sofrimento! 

Contudo, em um desses dias que a angústia e o medo me tomavam por inteira, encontrei a seguinte provocação:

“o primeiro sentimento do homem não é o medo, mas uma atração. O medo surge num segundo momento, como reflexo da percepção do perigo de que aquela atração não permaneça. Primeiro, há a adesão ao ser, à vida, a maravilha perante a evidência: como possibilidade posterior, teme-se que a evidência desapareça, que aquele ser não seja seu, que a atração não seja satisfeita. Não temos medo de que nos sejam tiradas coisas que não nos interessam; temos medo de que nos sejam tiradas coisas que antes devam nos interessar”[1].

Com este “simples” parágrafo podemos constatar que por trás da angústia, do medo, da dor, existe algo muito precioso que precisamos cuidar. E esse objeto de cuidado refere-se ao nosso desejo mais profundo, aquilo que norteia a nossa vida e a toma de sentidos e significados.

Segundo James Hollis, a palavra desejo deriva de um termo náutico latino que significa "da estrela"[2]. É ele quem guia a nossa existência, nos direciona. Mas por quantas vezes não nos deixamos tomar pelo medo e nos distanciamos cada vez mais dos nossos desejos a ponto de perdê-los de vista, nos confundimos e temos a sensação de encontrarmos em um labirinto?

Nessa situação, a única sugestão possível é nos propormos a um encontro. Às vezes, para tanto, é preciso uma companhia, seja ela uma ajuda profissional, religiosa, parental - enfim, a ajuda de uma amizade. Essa amizade pode então nos alertar que nos fechamos à vida devido ao receio de que aquilo que queremos na verdade preservar não aconteça. E através dessa constatação é que o encontro a uma abertura se faz, com ampliação das possibilidades. Mas para isso, temos que carregar a dor que também nos move - dor esta que faz parte da nossa humanidade e ao mesmo tempo a ela oferece sentidos.

“Permite que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silêncio,
e a dor é de origem divina”.
Trecho de Serenata, Cecília Meireles


[1] GIUSSANI, L. O Senso Religioso. Trad. P. A. E. Oliveira. Brasília: Universa, 2009. p. 157.
[2] HOLLIS, James. Encontrando significado na segunda metade da vida. São Paulo: Novo Século, 2011.

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