Ansiamos pela vida adulta: quando crianças estamos
sempre na expectativa dos anos que vêm pela frente; na juventude queremos logo
ser donos de nós mesmos, termos a tão sonhada independência; mas e quando
realmente chegamos à fase adulta, o que nos leva a verificar que estamos
“grandes”? Afinal, o que é ser adulto?
Cada um tem uma resposta para definir o que é ser
adulto – basta dar uma leve pesquisada nesse termo na internet que vemos desde
publicações acadêmicas até as mais divertidas bobagens. Enfim, qualquer que
seja a sua resposta para essa pergunta, uma que me foi dada recentemente,
tornou-se um grande ponto de provocação.
No curso de Zélia Nascimento, estava diante da
argumentação de que temos dificuldade de responsabilizarmos por nós mesmos.
Concordo plenamente e vejo isso o tempo todo em mim, nas pessoas à minha volta,
na clínica... Diante de algum problema, responsabilizamos todos, até Deus, o
cosmos, a falta de sorte, menos a nós mesmos. Não queremos ver a participação
que temos em cada mínimo evento da nossa vida e imediatamente pensei na questão
de como almejamos ser amparados, voltarmos à criança que existe em nós e termos
a quem recorrer, acreditarmos que alguém possa ser o suporte ou que nos ofereça
o tão esperado conforto perante as casualidades e problemas que deparamos.
Mas veio um complemento a essa questão – QUEREMOS
APENAS RESPONSABILIZARMOS PELOS OUTROS; porém, quem se ocupa disso também são
as crianças. Na mesma hora consegui identificar o que estava sendo falado, pois
a criança toma os problemas dos adultos como seus. Quantas delas não vemos
somatizando diante de algum problema familiar? Quantas não se culpam pelo
divórcio dos pais e pensam que se tivessem mantido tudo no lugar, talvez nada
disso teria acontecido? Quantas não rezam pedindo a interferência divina para
seus pais pararem de brigar, pois por mais boazinhas que sejam, não tem
adiantado? Enfim, os exemplos são inúmeros e realmente quando contatamos a
criança que existe em nós, vemos o quão responsáveis acreditávamos ser – até
que a chuva passaria se fizéssemos um ritual mágico para assim a brincadeira
não acabar...
Mas devo ter ficado com essa questão soando em meus
ouvidos por mais uns cinco minutos, enquanto outras questões foram sendo tratadas
e até houve mudança de assunto durante a referida aula. Não conseguia entender
um ponto – “mas como assim, hoje realmente sou responsável por várias coisas e
é isso que me torna adulta: tenho que me responsabilizar pelo meu filho, um
pouco pelo bem estar do meu esposo, pelas dificuldades da minha mãe em levar
adiante seus projetos, o encaminhamento do processo do meu cliente, convencer a
minha superiora a mudar certos projetos no trabalho”... Foi então que percebi
que a lista somente aumentava e vi que intrometia em assuntos que não me
pertenciam. E, enquanto isso, como cuidava de mim mesma? Consegui apenas ver
como sou negligente nesse ponto! Daí, um grande estalo aconteceu, a coisa mais
óbvia, até já discutida e referenciada, tomou realmente um sentido: queremos
ser cuidados ou cuidarmos dos outros, mas jamais de nós mesmos, pois assim,
teremos que realmente nos responsabilizar por aquilo que fazemos, como fazemos,
o que queremos, para onde vamos nos levar e assumir os intercursos que aparecem
no meio do caminho. É mais fácil, portanto, darmos respostas para aquela amiga
que está com um baita problemão com o namorado, falar o que o filho deve
cursar, pois assim seu futuro vai estar garantido e explicar para o esposo o
que ele deve fazer com a própria carreira. E enquanto isso, esperamos também
uma mágica resposta vinda de um outro para os nossos problemas.
Para sermos adultos temos que nos esforçar para dar
as próprias respostas, irmos ao encontro daquilo que nos pertence,
identificarmos o que realmente nos corresponde e assumirmos os riscos. Como
consequência, isso vira serviço de utilidade pública – pois aqueles que estão à
nossa volta têm também que descobrir as respostas para suas questões. Ajudas
são bem vindas, mas intromissões e entrega do problema ao outro, não!
Daí, então, para sermos grandes temos que nos dar ao
trabalho, esforçarmos para construir o adulto que almejamos ser. A minha
questão, portanto, agora mudou: não é mais o que é ser grande, mas quando fui
gente grande hoje?
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